sexta-feira, 27 de junho de 2014

Crônica de um jogador infeliz na Copa do Mundo

A primeira vez que dei uma "pernada" me senti como se tivesse batido num filho meu. E quando o jogo seguiu sem que o juiz dissesse nada ainda fiquei surpreso. Aquilo não era futebol e nunca gostei desse tipo de atitude, mas precisava dela pra seguir jogando.

Futebol é literalmente bola no pé e devia ser só isso. Como pode termos chegado nesse ponto hoje em dia, quando o que mais acontece é porrada? Se você olhar com um pouco de humor até se diverte, já que os jogos parecem um grande pastelão, com jogadores caindo a cada dez segundos, das maneiras mais estranhas possíveis e inimagináveis.



O exemplo mais básico pra mim é o puxão de camisa. A mão não faz parte do jogo. Ela só está lá na ponta dos braços pra ajudar no equilíbrio. Acidentes acontecem, mas quando se fecha a mão que agarra a vestimenta do adversário, o jogador deveria ser expulso sumariamente. Mas isso é só uma coisinha no mar de coisas erradas numa partida, onde temos voadoras, joelhadas, cotoveladas, bundadas e muito mais, que são classificadas pelos narradores como "jogo de corpo" e "normal". É fácil pegar duas jogadas praticamente iguais em um mesmo jogo onde a posição dos comentaristas é oposta, indo de uma "coisa de jogo" à "mereceu o cartão amarelo", quando as duas deveriam dar cadeia.

Veja como funciona o critério de falta: se tocar a bola é jogada normal. Então eu aprendi que se eu der um golpe de kung-fu, como nos videogames, atravessando a perna do meu oponente com ossos, veias e músculos, mas acertar a bola depois, tá tudo legal. Acho horrível, mas eu estava sendo preterido nos jogos por ser muito... fraco... ineficiente, pra usar palavras leves.

Meu sonho é que apareça alguém pra botar as regras do futebol em prática, criando uma liga de Futebol 2.0, na verdade, Futebol 1.0 mesmo, Futebol Real, já que essa era a idéia original. Podíamos fazer uns cursos com os árbitros de esportes americanos, já que eles são sensacionais em fazer funcionar o basquete e o "futebol" americano, que têm realmente muito contato, ou jogo de corpo. Aí botamos os juízes pra realmente marcar faltas que acontecem realmente normalmente e expulsar quem fizer coisas abomináveis que são consideradas normais nesse carnificina de hoje. Poderíamos implantar uma contagem de faltas por jogador como ocorre no basquete também. Fez cinco faltas, tá fora.

Já me falaram que o povo gosta é da porrada. Sério? Já imaginou esses caras que tão jogando aí hoje PODENDO jogar o que eles sabem? Sem medo, e realmente não tomando as pernadas quando os dribles que eles têm na cabeça pudessem passar diretamente pros seus pés, sem esse filtro. O jogos iam ser fantásticos, espetáculos.

Até pouco tempo atrás tínhamos um vislumbre dessa ideia na Copa do Mundo, com os melhores de todos em um grande torneio com todos os clichês de união dos povos e confraternização, onde os jogadores eram mais parecidos com os caras que jogam no bairro e os juízes não permitiam excessos. Estou aqui na Copa agora, graças à minha submissão ao modo de jogo atual, com todas essas abominações do pé na perna, pé no peito, joelho na cabeça e mão na cara, e continuo infeliz. O futebol ainda está escondido, esperando uma oportunidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são altamente moderados visando uma conversa interessante, então não perca seu tempo.